sexta-feira, novembro 20, 2009

I'm yours



Músicas embriagam. Havia chegado à essa conclusão após longas horas de melosidades e romantismo barato, onde o som do violão e a voz espremida do cantor a levaram de volta para um lugar onde jurara nunca mais colocar os pés — muito menos os pensamentos.

De repente, os olhos escapam e vão parar do lado de fora da janela. As nuvens que andam por trás da antena de TV hiponotizam, ao mesmo tempo que causam inveja — para onde irão? Mesmo com todo o barulho em volta de si, sente-se só, e a solidão aperta-lhe o peito. Prestou atenção, entretanto.

A diferença era sutil, mas não pode deixar de perceber que algo estava diferente. Ainda sentia o vazio, mas ele não parecia mais tão indissolúvel. O céu, agora claro, deixara a antena completamente visível. “Mais cedo ou mais tarde, outras nuvens virão para cobri-la”, pensou.

A urgência, o nervosismo, tudo isso ela conhecia bem até demais. Exatamente por isso, sentia, acima de tudo, medo. Sabia muito bem o que as mãos suadas e o frio na barriga significavam: saía de uma cela para entrar em outra. “Estamos sempre presos”, murmurou, ao se dar conta de que já era tarde demais.

Mas o que ela queria mesmo era ir embora. Ser livre, como as nuvens. Para onde terão ido?

terça-feira, outubro 13, 2009

Amanhecer

Fez o que há muito ansiava mas nunca tivera coragem: resolveu tomar as rédeas da própria vida. Colocou tudo que precisava em sua bolsa favorita, trancou a porta e saiu.

O primeiro passo rumo à vida nova seria fazer sozinha o que geralmente só se faz acompanhado. Enquanto tentava enxergar a melhor poltrona na escuridão do cinema, sentia os olhares queimando-lhe a nuca, fulminantes, mas cheios de pena. Olhou para baixo, tateou o celular no bolso e fingiu escrever uma mensagem. Com medo do aparelho tocar justo naquela hora, tentou sentar-se o mais depressa possível, equilibrando o saco de pipoca doce e sua bolsa, desnecessariamente enorme.

Sentiu-se aliviada por ter escolhido um cinema não tão popular. Nada mais desagradável que dividir o mesmo ambiente com casais egoístas: ávidos por alardear sua felicidade, esquecem da solidão alheia.

Após o filme, resolveu dar uma volta. Na verdade, não foi bem uma resolução. Apenas saiu e caminhou, sem saber ao certo para onde – algo até então inacreditavelmente inédito, tamanha a dependência que tinha de outras pessoas.

Sozinha, aproveitou para pensar na vida. Rebobinou mentalmente os últimos meses e não foi capaz de encontrar uma resposta sequer para a tristeza que sente hoje.

Sentiu vontade de conversar, mas desistiu. Precisava aprender a se sentir completa em sua própria companhia. Cansou de fazer os outros de muleta.

domingo, outubro 11, 2009

Speechless

Último post do Fabrício Carpinejar, que surrupiou minhas ideias de novo:

Acabamos na noite de sábado. De manhã, o computador pergunta se desejo trocar a senha com seu nome. Faltam 12 dias para expirar. Cheira implicância. Daqui a doze dias, é meu aniversário. Não estará presente, pelo jeito. Será o primeiro aniversário da minha vida adulta que atravesso solteiro. Sem surpresas. Sem jantar. Sem os aplausos das velas. Sem aquela vontade de atravessar a idade de mãos dadas.

Tenho que controlar o coitadismo. Não há vítima na briga, há dois agressores. Sou um deles. As pedras no bolso são versáteis, servem tanto para o suicídio como para o homicídio.

Nenhum dos dois quis mudar. Mudar era visto como piorar, infelizmente. Nos amamos o suficiente para morrer, não o suficiente para nascer de novo.

Não vou telefonar, não vou mandar torpedo, apesar da vontade imensa de reatar. O orgulho assumiu meu quarto. Conversa com ele agora. Com essa governanta das minhas desvalias, do meu guarda-roupa e sapatos. Estou de castigo, protegido, ausente, impedido de responder por mim. Se fosse responder, avisaria que dependo de você, que a desejo de volta. Infelizmente sou capacho de minha angústia. Piso em minhas palavras para limpar os pés da chuva.

O desamor é treino. Não existe desamor. Existe ensaio, simulação da indiferença, controle absurdo do cumprimento. Não que não sinta nada por você, sinto absolutamente tudo mais do que nunca e não consigo comunicar. Os cotovelos latejam, a cabeça bóia, as pernas mergulham numa fraqueza de maratona.

É esquisito ser seu ex. O corpo não aceita participar da greve de fome. No dia seguinte, sou seu ex-namorado. Acordei ex. Pronto. Na noite anterior, era o homem mais importante. Agora virei um estranho, um engano. É excessivamente cruel. Largar uma história em comum sem nenhuma desintoxicação, tratamento, cuidado. Sem nenhuma ante-sala para chorar, berrar, espernear, expiar a febre. É muito mais grave do que um vício.

Quando você ardia alguma angústia, dizia que logo passava.

Não passará logo. Fingirei. Fingirei que me darei melhor sozinho. É uma estrondosa mentira que também acreditará porque não tem escolha. Sou uma mesa para dois, serei sempre uma mesa para dois. Levarei minhas malas para ocupar a cadeira ao lado. Enfrentarei os questionamentos: "onde você anda?": nos lugares em que frequentávamos juntos. Explicarei que brigamos, escutarei dos amigos que é normal e que logo faremos as pazes, comentarei que é definitivo por educação e para não sofrer mais.

O ex mente, integralmente mente, complicado porque você me ensinou a gostar da verdade. Não tivemos filhos, não tivemos uma casa para dividir a partilha, não tivemos um cachorro para se procurar novamente. Não projetamos pretextos para a reconciliação, como esquecemos disso? Nosso amor não tem endereço como um circo, montado e desmontado na estrada.

Resisto a trocar a senha, aceito as migalhas da casualidade, não estou pronto, ninguém está pronto para se separar. O computador é mais caridoso do que a gente. Coloca prazos. O prazo é uma esperança disfarçada de adiamento.

Como dói o que não começou a doer. Não preciso de férias, preciso de outra vida.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Shame on you

É engraçado como algumas coisas parecem cair no seu colo no momento certo. Há alguns dias, uma conversa com uma amiga sobre culpa me deixou com a pulga atrás da orelha. Não vou entrar em detalhes, mas, em resumo, ela me disse que seu maior problema é sentir culpa em dobro: além da culpa natural, que surge quando não consegue corresponder às expectativas dos outros, há a culpa por decepcionar à si própria - muito mais ingrata e massacrante.

Com o tema martelando na minha cabeça, lá vou eu para a internet. Uma simples Googleada me conduziu a esta reportagem, veiculada na revista TPM no mês passado. A matéria fala justamente sobre culpa, especificamente a feminina. O que me deixou realmente impressionada, uma vez que nunca tinha imaginado que o assunto fosse assim, tão de domínio público (um pouco egoísta da minha parte acreditar que só eu ou, pelo menos, poucas pessoas haviam divagado sobre isso, admito).

A mulher de hoje precisa ser 24 horas, multiuso, independente, informada e bem vestida. Não basta ser interessante se você não está com as unhas feitas ou não sabe diferenciar um escarpim de um chanel. Pergunta: qual a moral da história? Resposta: ninguém consegue ser/fazer tudo isso ao mesmo tempo, o tempo todo. Em algum momento, você vai querer dormir depois do almoço. Nem todos os dias no trabalho serão produtivos, nem sempre as melhores ideias serão suas.

Se fosse fácil aceitar tudo isso numa boa, a vida seria uma maravilha. Entretanto, os problemas surgem exatamente porque nos cobramos demais. Não falo só das mulheres porque para mim ambos os sexos são neuróticos, MAS, segundo os especialistas ouvidos na reportagem, as mulheres sentem-se mais culpadas que os homens. Um dia sem ir à academia é quase uma sentença de morte, um chocolate é sinônimo de pecado mortal digno de fogueira, e para quê? Sentimos culpa quando produzimos e quando não produzimos, mesmo.

Para mim, a origem de tanta culpa é a vontade de parecer ser mais do que se realmente é. Se me permitem o clichê, a mídia também não ajuda -- aliás, atrapalha. O que mais são todas essas revistas com dicas de moda, beleza e afins além de catalizadores da culpa alheia? Todo mundo sabe que é humanamente impossível ficar parecida com as modelos que estampam as páginas desse tipo de publicação, então, porque diabos isso incomoda tanto? Porque com tantas opções, é difícil se contentar em ser apenas você mesmo.

E quem foi que colocou todas essas expectativas nas nossas costas, mesmo? Foram os professores, os namorados, os chefes, os pais, quem? Na maioria dos casos, nós mesmas. Ainda estou aprendendo a lidar com o sentimento de culpa, já que ele está presente em todos os momentos. É impossível fugir. Me sinto mal quando não consigo cumprir metas que eu mesma estabeleci, mas estou tentando não me cruxificar mais (tanto) por conta isso.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Escritos lisérgicos

#1

A obra de nossos artistas preferidos parece nossa. Temos ciúmes das palavras escolhidas por nossos ídolos como se tivéssemos pensado nelas primeiro.
A frase que escolhi -- e tomei para mim -- me define; resume meus sentimentos tão precisamente que chego a duvidar se não tive as ideias surrupiadas.

#2

Não sentir, para Clarice*

Começa sem que a gente perceba. A blindagem sentimental serve como escudo às almas que já cansaram de apanhar. Acontece que, um dia, o guerreiro precisa voltar ao campo de batalha.
Porém, sem condições de sentir naturalmente, passa a se ferir -- deliberadamente -- em um desespero inútil de resistir.
Não dá mais tempo.
Nem que conseguisse chegar ao núcleo de seu ser encontraria os sentimentos por tanto tempo ignorados. Não estão mais lá.

#3

Escrever está em mim, mas vive como um bicho adormecido. Hibernando, não há força no mundo que o faça despertar antes da hora: é preciso que a própria natureza (único chamado que obedece) o ordene.

#4

Escrever precisa pulsar nas veias, como sangue.

#5

Dava para ouvir os estilhaços indo ao chão a quilômetros de distância. Cabisbaixa, pôs a mão no peito e sentiu seu coração -- que acabara de quebrar-se em mil pequenos pedaços.

#6

Fome

-- Você poderia ter desenvolvido melhor a ideia.
-- É que, às vezes, só uma frase me satisfaz.

#7

Tão ruim olhar bem no fundo do olho e não ver mais o amor.
Melhor sair da frente do espelho.




* Inspirado em "Não sentir", da Clarice Lispector

sexta-feira, setembro 18, 2009

Ponto de vista




















Vagando por alguns blogs enquanto o relógio resolve ficar de greve, um post em especial me chamou a atenção. "O passado que fica", escrito pelo colunista da Época Ivan Martins, defende que "homens, mais do que mulheres, têm dificuldade em deixar que as coisas passem". Pra você ver como são as coisas. Quando a gente pensa que já tem resposta sobre tudo...


No texto, o autor cria algumas teorias sobre como as mulheres lidam com o término de um relacionamento amoroso. O curioso é que ele mostra um ponto de vista completamente inverso ao que sempre observei, tanto em relacionamentos de amigos(as) quanto nos meus. Honestamente, pensar que existe um homem que acredita que as mulheres sejam mais despreendidas emocionalmente ou que até sofrem (intensamente), mas que "saem rápido da dor, prontas para outra" são coisas que não teriam lugar nem nos meus devaneios mais insanos.


Pessoalmente, confesso que faço parte do time dos que sofrem de "torcicolo existencial": sempre olhando para trás, refazendo mentalmente a tragetória de determinado período que me fez feliz. E assim também é a maioria das mulheres que conheço. A grande questão não é quem se recupera primeiro, mas o tempo que cada um leva para tirar o sofrimento da vitrine da piedade alheia.


Chega um momento em que é preciso guardá-lo. Atenção: eu disse guardá-lo, e não escondê-lo -- até porque, seria impossível. Guardar não significa esquecer, é só uma estratégia para não precisar ficar olhando toda hora, lembrando, remoendo. Claro que, em alguns momentos, a nostalgia vence a razão e algumas espiadinhas esporádicas escapam, mas conforme o tempo passa, a dor diminui. Ou, pelo menos, perde seu ar teatral e ganha contornos de realidade.

Eu nunca esqueci nada. Nenhuma amizade perdida, nenhum amor que foi embora, nenhuma ofensa, nada, nada. Algumas coisas, lembro com saudade. Outras, gostaria que não tivessem ficado com tantos detalhes. Não superei tudo, mas lembro. Enfim.


Não sei se as mulheres lidam melhor com a separação que os homens. Para mim, a questão transcende a divisão de gêneros: independente de ser homem ou mulher, supera "melhor" ou "mais rápido" aquele que é mais maduro emocionalmente. No meu caso, infelizmente, esse conceito ainda é mera teoria.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Estamos Sob o Mesmo Teto

estamos sob o mesmo teto
secreto
onde o sol indesejável é barrado
eu e você
sob o mesmo nós
dois, sóis
sob o mesmo pôr
(o enigma do amor)
do sol
onde todo contorno finda
estamos
sob a mesma pálpebra
agora
já e ainda
intactos de aurora.

Texto de Arnaldo Antunes, publicado no jornal O Globo em 25 de julho de 2009.

sexta-feira, agosto 21, 2009

Baús virtuais

relicário
re.li.cá.rio
sm (relíquia+ário) 1 Recipiente onde se guardam relíquias. 2 Bolsinha ou medalha com relíquias que, por devoção, alguns trazem ao pescoço. 3 Caixa de lembranças ou recordações. 4 Memória; coração.


Estranho como a internet acaba se tornando um relicário de nossas vidas. Meu primeiro baú virtual foi o fotolog, ferramenta que virou febre no início dos anos 2000 e que, como o próprio nome já dá a entender, permitia a inclusão de fotos ou imagens aos comentários do usuário. Lembro que não havia uma só pessoa que não tivesse um fotolog, ou "flog", para os que estavam mais por dentro das gírias internéticas (essa palavra existe?).

O mais legal dessas e das tantas outras ferramentas que existem hoje por aí é a customização. Nenhum flog era igual ao outro, ainda que as letras e o fundo tivessem a mesma cor - únicos recursos modificáveis até então. Cada um inventava uma forma de se destacar, seja pelo texto (que, se tivesse mais de duas linhas, raramente era lido), pelas fotos descaradamente alteradas pelo photoshop ou pela quantidade absurda de comentários.














Exemplo de post no finado
Fotolog: fotos auto-explicativas seguidas de comentários curtos eram a minha forma de (tentar) me diferenciar


Hoje o fotolog já não é mais tão popular. Dinâmicos, os internautas preferiram migrar para ferramentas mais modernas, como o Orkut ou o Twitter. Apesar de também ter me rendido à essas e outras tantas novidades da web, confesso que sinto saudades da época de flog. Pode ser saudosismo barato (sinal de que o tempo está chegando mais rápido do que eu gostaria), mas acho que os posts eram mais póeticos, tinham mais consistência, ou, no mínimo, mais sensibilidade. As fotos ou imagens que ilustravam cada atualização eram escolhidas à dedo, para combinar perfeitamente com o texto e montar a mensagem a ser passada.

O fotolog era algo como uma sessão de análise coletiva, se é que é possível fazer tal analogia. Os donos da página postavam pensamentos e conflitos íntimos, e os visitantes tinham carta branca para dar pitacos à vontade na vida alheia. Era lá que se ficava sabendo dos programas para o final de semana, quem estava namorando com quem, o que cada um fez no feriado. Porém, se a mensagem principal do post não estivesse assim tão explícita, restava quebrar a cabeça para descobrir a relação foto-texto feita pelo autor (o que acabava se tornando um passa-tempo obsessivo, ao menos para mim).

O problema é que nem todo mundo lembrou de apagar o seu fotolog quando deixou de usá-lo. Hoje, descobri que sou uma dessas avoadas, mas, pela primeira vez, esse tipo de deslize me causou certo prazer. Meu período "floguiano" (essa palavra com certeza não existe) englobou toda minha adolescência, época naturalmente propícia à mudanças.

Guardo um carinho muito especial por esses anos que foram divisores de águas na minha vida. Foi nessa fase que me apaixonei pela primeira vez, que tomei meus primeiros porres, que descobri como sair sozinha pode ser ao mesmo tempo perigoso e incrivelmente libertador. Foi também nessa época que
tive minha primeira e inesquecível decepção, que aprendi que nem todo mundo é confiável e que ser sempre sincera é, na maioria das vezes, a opção mais inteligente.

É bom ver que minha adolescência não foi completamente apagada. De certa forma, ela ainda está ali, guardada em uma empoeirada gaveta virtual.




quinta-feira, julho 30, 2009

Grande maçã tupiniquim




Já faz quase um mês desde que postei pela última vez. Nesse curto espaço de tempo, muita coisa mudou. Não foram mudanças perceptíveis a olho nu (continuo sempre atrasada, gorda e impaciente), mas não deixam de ser significativas por isso.
A primeira coisa que eu aprendi foi que superstições são besteiras (vide o último post). Mas como toda pessoa teimosa que se preze, precisei ver para crer. Bom, está visto. Próxima questão.

Para não dizer que ela não acertou nada, a viagem a São Paulo foi incrível: conheci uma realidade que nunca imaginei que existisse, um lugar onde as coisas realmente acontecem e que nunca para. Realmente me vi morando naquele lugar, convivendo com as pessoas de lá, me estabelecendo. Quando eu digo “tudo”, eu quero dizer tudo MESMO. Os prédios enormes, as ruas apertadas, pessoas apressadas, o mundo de concreto e fuligem, tudo apaixonante, tudo, tudo mesmo.

Antes de ir, eu não acreditava muito naquela história de que a sua casa pode ficar pequena um dia. Era capaz de projetar tranquilamente cada momento da minha vida para os próximos vinte anos – aqui, claro. Já sabia quanto custaria morar sozinha em Brasília, onde escolher meu apartamento, onde iria trabalhar, sair nos finais de semana, essas coisas. O mais impressionante era que esse pensamento não me angustiava nem um pouco. Me dava calma, aliás. A idéia de tranqüilidade tão perseguida por todos, nesses tempos em que estabilidade financeira vem sempre antes da satisfação profissional (e pessoal).

Mas foi só subir no avião. Antes mesmo da decolagem, já dava para sentir que aquela não seria uma viagem como outra qualquer. Uma verdadeira revolução estava prestes a acontecer na minha cabeça, e cada poro do meu corpo me dizia isso.

Na realidade, a idéia de ir para uma cidade totalmente diferente da minha teve um propósito muito claro. Não foi uma coisa assim, tão despretensiosa como gosto de pensar. Os planos de sair de Brasília são antigos, sempre achei que essa cidade faz mal para as pessoas, mas isso nunca serviu como trampolim capaz de me fazer tomar alguma atitude à respeito. Morar em São Paulo será ótimo para a minha carreira, mas isso também não foi o estopim.

Acho que o que mais me incentivou foi a minha vontade de fugir. Morro de medo de ficar parada, no mesmo lugar, sentindo, pensando, desejando as mesmas coisas – e pessoas – todos os dias. Mudei tanto nesses últimos meses que seria uma pena desperdiçar tanto aprendizado. Em Brasília, a carga emocional é muito intensa, e acabou ficando pesada demais para eu carregar sozinha. Tudo aqui me lembra uma pessoa que quero e preciso desesperadamente esquecer: eu mesma.

Quero a chance de me reinventar, de mudar completamente. Lá, posso ser quem eu quiser. Posso começar a pintar de novo, pois terei uma gigantesca tela em branco à minha inteira disposição. Quero começar tudo de novo, virar outra pessoa, encontrar novas problemáticas. Quero me preocupar com o aluguel no fim do mês, com a conta de luz, se está faltando filtro para fazer o café. Fazer uma pós graduação, trabalhar de verdade, saber quanto custa um quilo de carne e se vale mesmo a pena comprar uma televisão parcelada ou juntar para pagar tudo de uma só vez, à vista.

Quero crescer.

sábado, junho 27, 2009

Experiências antropológicas


Nosso futuro pode estar escondido dentro de uma simples xícara?


- Vejo uma bota. Isso quer dizer que você precisa dar o próximo passo em direção à sua felicidade emocional.

Ela tremia: embora se considerasse extremamente cética, via-se diante de uma situação inusitada e ao mesmo tempo angustiante. Como seria possível que uma pessoa que nunca a viu antes soubesse tanto sobre sua vida? Tentava racionalizar. Quem procura uma profissional que promete ler seu passado, presente e futuro numa xícara de café suja só pode se tratar de uma pessoa desesperada. Sendo essa pessoa uma mulher, o motivo do desespero só pode ser amor.

- Vejo também uma reconciliação. Mas ela vai acontecer antes de... Você está com uma viagem marcada para esses dias?

Estava. Ela acertou de novo. Mas e se aquela misteriosa senhora de cabelos vermelhos e olhos acusadores estivesse dizendo aquilo baseando-se apenas em palpites? Afinal, estamos no meio do ano, época de férias... É normal viajar nas férias, certo?
Reparava na decoração. Um piano no canto da pequena loja que parecia nunca ter sido tocado ocupava muito espaço. "Deve servir para compor melhor o cenário", pensava, enquanto lutava para resistir à tentação de tocar os tecidos coloridos que cobriam a mesa.

- Estou convicta sobre essa reconciliação. Será antes da viagem. Quando você voltar, ela continuará. Vejo também uma saudade muito grande de uma pessoa durante essa sua viagem.

Saiu pensando sobre sua vida. Sentiu-se ridícula por ter recorrido a uma coisa tão besta quanto adivinhações, mas, ao mesmo tempo, uma pontinha de esperança fazia cócegas dentro dela.

terça-feira, junho 09, 2009

The day is new, Suzie Blue

Hoje decidi brincar de não pensar mais no passado. Quero fingir, nem que seja só por um dia, que nada aconteceu, que o presente está tranquilo e que o futuro é promissor. Mais do que me preocupar com o que pode acontecer, quero desencanar de todas as coisas que eu penso que podem não se realizar: quero ficar quieta, só.

Um dia para não dar murros em ponta de faca. Colocarei curativos ao invés de abrir ainda mais as feridas e remendarei eventuais rasgões feitos por pessoas que não souberam conservar meus sentimentos.

Em certos momentos, parece que a ilusão é opcional. As evidências estão sempre à mão, mas nem sempre sobra ânimo para esticar os braços o suficiente para alcançá-las — o que fazer, então?

Nada, eu acho. Pode ser que certas experiências sejam obrigatórias, e não importa o quanto você se contorça, brigue, relute: você vai passar por elas. Mas isso não precisa ser obrigatoriamente uma coisa ruim, afinal, sempre há alguma coisa a se aprender. Mesmo que seja da forma mais dolorida possível.

quarta-feira, junho 03, 2009

Freedom




Foi uma daquelas coisas que só poderiam acontecer em uma mesa de bar. Distraídos, estávamos jogando conversa fora quando surge um hippie vendendo os pinduricalhos que hippies vendem (nunca descobri a utilidade de usar anel de arame). Até aí, tudo bem. Porém, pessoas sociáveis que somos — a cerveja ajuda um pouco, confesso —, convidamos o ilustre viajante para se juntar a nós. Histórias mirabolantes sobre formigas psicodélicas à parte, ele até que falou coisas muito interessantes.

Segundo a criatura com o pé mais sujo do planeta, ele era um empresário em alguma cidade de Goiás. Ganhava mais de quatro mil reais, dava festas para os amigos aos finais de semana, tudo “do próprio bolso, sem cobrar nada”. Até que, um dia, cansou. Cansou de pessoas puxando o saco das outras, de correr para entregar planilhas à tempo, de não ter nenhum momento do seu dia reservado a ele mesmo. Juntou as coisas e foi embora, para o mundo.

Passou pela Bolívia, onde viu montanhas que pareciam pintura à óleo, viu culturas diferentes, conheceu pessoas completamente malucas e interessantes. Foi para os Estados Unidos de carona, aprendeu a fazer artesanato, a entender de relevo. Enfim, jogou tudo para o alto e foi viver.

Ele foi viver, cara. Já parou para pensar nisso? Eu confesso que ainda não. Não tenho tempo.

quarta-feira, maio 20, 2009

A droga do amor





“O amor é meio assim, dos outros. Meio malas prontas, meio check-in”.
(Cristiane Sobral)


Uma reportagem da revista Época e um post no blog Mulher 7x7 estavam falando do mesmo assunto: amor. Piegas e já debatido à exaustão, o tema é indiscutivelmente de um valor notícia impressionante. Não há uma pessoa sequer no planeta que não pare para ler ao menos o primeiro parágrafo de uma matéria assim (por mais constrangedor que seja admitir).

Na matéria, uma pesquisa realizada por dois cientistas americanos revelou o segredo da paixão. O responsável pelo friozinho na barriga e mãos suadas quando se encontra o objeto de desejo seria “a ativação de um circuito na área tegmentar ventral, uma região do mesencéfalo, no meio da cabeça”. Ok, não faz sentido nenhum, eu sei. Vamos lá: segundo eles, a composição genética (sempre ela) seria o fator determinante para dar a felicidade eterna ou condenar um relacionamento ao fracasso completo.

Enquanto isso, o post — entitulado “A arte de levar um pé na bunda" — falava, obviamente, sobre decepções amorosas. Histórias de mulheres que conseguiram dar a volta por cima também não são necessariamente uma novidade, graças ao Sidney Sheldon, mas confesso (embora envergonhada) que foi a leitura que mais me prendeu. Claro que um post não tem necessariamente que vir recheado de fontes de altíssima credibilidade ou dados do IBGE, mas nem por isso torna-se menos crível que uma matéria de quatro páginas lotadas de aspas de médicos e especialistas.

Mas se o assunto é batido, os argumentos são mais velhos ainda. Afirmações como “há um gene responsável pela paixão, mas há também um conjunto extenso de outros fatores” ou “faça do limão uma limonada” não tem lá muita graça, até que veio a parte bacana: como todo cientista quer ser pioneiro, já andam dizendo que é possível produzir uma droga do amor. Como seria se pudéssemos fazer pessoas se apaixonarem por nós? Ou, melhor ainda: quão maravilhoso seria se fosse possível aposentar de vez o trio sofá-sorvete-filme para curar aquela dor de cotovelo apenas com um comprimido?

Todos se apaixonariam e se desapaixonariam instantâneamente. Seria a evolução do “boa noite, Cinderela”, só que bem pior, já que as vítimas passariam a amar seus agressores. Em compensação, haveria uma democratização do amor. Sem o impecilho da atração à primeira vista, qualquer um estaria “apto” a se relacionar com qualquer um, uma vez que, após ingerir as cápsulas milagrosas, o amor viria, tanto para gordos como para magros, feios ou bonitos. Seria o fim da transa casual, pois seria simples amar de verdade apenas por uma noite. No dia seguinte, uma pílula após o término do “relacionamento” e pronto — estaríamos prontos para começar de novo!

Embora não seja bem uma expert sobre o assunto, já tenho uma bagagem até razoável, especialmente no que diz respeito à dores de cotovelo. O suficiente para, quando lançarem a novidade, encomendar um caminhão do melhor medicamento inventado desde a penicilina.

terça-feira, maio 12, 2009

Amar é...



Em uma dessas caminhadas vespertinas, vi um casal na rua. De mãos dadas, os dois observavam o filho pequeno brincar com o cachorro, enquanto equilibravam as duas bolas de sorvete na casquinha que tomavam juntos.

Enquanto procurava as câmeras e a equipe de tv que deveriam estar filmando o que só poderia ser a nova propaganda da Doriana, fiquei pensando sobre felicidade. Será que a fórmula marido-casa-filho-cachorro já não está batida demais?

Não duvido que formar uma família deva ser gratificante, afinal, estabilidade parece ser a obsessão dos tempos modernos. Manter um clã unido é sinal de vitória e sinônimo de sucesso em uma sociedade que venera aparências: não importa se o relacionamento já não tem mesmo o vigor ou se acumulamos tarefas para demorar mais meia horinha antes de ir para casa. O importante é passar a imagem de que está tudo bem, que somos unidos e que nos amamos, no matter what.

Não tenho certeza se ter alguém para dividir a cama significa a felicidade plena, a conquista de uma vida. E se ao invés de ter que aguentar roncos ensurdecedores alguém preferir ficar só com o som do ar-condicionado, enquanto lê seu livro preferido? E se alguém decidir que o melhor mesmo é investir na própria carreira, sem precisar abrir mão de novas oportunidades para não chatear o parceiro ou a parceira?

Há muitas formas de felicidade. Uma música que fale o que você está sentindo no momento é uma maneira de ser feliz, assim como conhecer pessoas novas, ter realização profissional, encontrar alguém bacana. Cada um tem um jeito de se sentir feliz, mesmo que esse jeito não seja necessariamente nos moldes socialmente mais "adequados" e/ou aceitos.

Porém, o importante mesmo é se bastar. Todos devemos saber andar com nossas próprias pernas, porque ninguém nasceu para servir de muleta de ninguém. A solidão dá medo, mas é intrínseca a todo ser humano: nascemos, vivemos e morremos sozinhos. Encontramos pessoas importantes pelo caminho, também solitárias, e cada um trilha seu próprio caminho. Influenciamos e somos influenciados, e só. Esse é o máximo de interatividade que temos uns com os outros, já que as consequências de nossos atos são só nossas.

terça-feira, maio 05, 2009

Teimosia




Não consigo pensar em nada que deixe um universitário mais angustiado que a sensação de não saber muito bem o que está fazendo – especialmente aqueles que, como eu, sempre tiveram certeza do que queriam da vida.

Se no começo do curso tudo é festa e expectativa, a frustração nos anos seguintes é inevitável. Não quero parecer pessimista demais (apesar de o ser), mas nenhum curso na face da Terra é capaz de suprir todos os sonhos de um calouro. Sempre haverá professores sem ética, pessoas picaretas, colegas insuportáveis ou aulas inúteis no meio do caminho, seja qual for a opção marcada no vestibular.

Mas o que acontece quando não se é mais calouro? A única coisa que podemos fazer quando percebemos que o que sonhávamos não era assim tão cor-de-rosa: amadurecer. E isso significa trocar reclamações por atitudes e "birras" por alternativas que agradem ambos os lados de um desentendimento. Como num filme de faroeste, precisamos deixar sempre um sorriso amarelo preparado, pronto para ser sacado a cada vez que uma acusação injusta ou sem sentido vier em nossa direção (e são tantas!).

Com o passar dos semestres, não ganhei apenas créditos e dores de cabeça. Olhando para trás, percebo o quanto embarquei no jornalismo confiando única e exclusivamente no meu feeling (que depois descobriria ser muito útil para a profissão). Sem ter a menor idéia sobre o que REALMENTE significa entrar esse mundo, me atirei de cabeça, não quis nem saber. Como qualquer apaixonado, não pensei nas consequências, apenas fui.

E, como acontece em qualquer paixão, o encanto passou. As consequências vieram em forma de insônia, olhos inchados, tensão a cada pauta que desanda ou cai, medo de não estar por dentro de absolutamente TUDO o que está acontecendo no mundo, de não escrever bem ou de não passar os dados corretos e um princípio de infarto cada vez que escuto meu celular tocar.

Pago o preço pela minha escolha diariamente. Meu humor não é mais o mesmo, não sei o que é dormir mais de oito horas em uma mesma noite (salvo feriados, enquanto os plantões não chegam), minha saúde faria Dráuzio Varella arrancar seus cabelos – se ainda os tivesse – e, definitivamente, não consigo mais olhar ser humano nenhum com os mesmos olhos.

Mas continuo. Cada matéria publicada é uma vitória, e só eu sei o quanto custou deixá-la pronta. Nada me deixa mais feliz que receber ligações ou e-mails de leitores que se identificaram com alguma coisa que escrevi, ou saber que uma matéria minha foi capaz de influenciar positivamente a vida de alguém, mesmo que de forma sutil.

Como em qualquer relacionamento, a paixão virou amor.

domingo, maio 03, 2009

(Má) Educação sentimental



Melhor ser arrastado à beira do penhasco e poder bradar a vitória das emoções do que permanecer em terra, junto aos pedantes e frios racionais, e fitar com reprovação e ojeriza estes apaixonados vermelhos, contritos e embriagados


Estava lendo um post de um amigo sobre educação emocional e me peguei pensando se tal coisa realmente existe ou é apenas algo que gostaríamos desesperadamente que fosse verdade.

Eu, pelo menos, garanto que ficaria muito feliz se fosse possível. Como seria bom controlar a empolgação por alguém que você sabe que não vale a pena, ou saber manter a calma diante da certeza de uma separação. Não haveria mais a frustração de descobrir que escolheu a pessoa errada, pois estava enxergando com os hipnotizados olhos de amor: com nossa racionalidade preservada, seríamos capazes de escolher apenas as pessoas que mais se adaptassem à nossa realidade.

Mas, se por um lado o risco desapareceria, a satisfação de ter acertado iria com ele. Sem o famigerado frio na barriga, nada mais nos impulsionaria a procurar.

Confesso que meu ponto de vista sobre o assunto não é dos mais românticos. Deixei de acreditar que existe uma pessoa ideal para mim, pois, como todo ser humano, eu sou mutável. E se a pessoa certa para essa "fase" que estou vivendo agora só aparecer na próxima? Então estará tudo perdido? Não, não dá para pensar assim.

Pensamento contraditório: ao mesmo tempo em que admito que a linha de raciocínio precisa fazer sentido, também defendo que, quando se fala em assuntos sentimentais, a lógica é a última coisa que conta.

Assim como meu amigo, quero ser arrastada à beira do penhasco, mas, honestamente, não sinto que ele exista.

quarta-feira, abril 29, 2009

Danúbio




Olhava pela janela e pensava. Por quê mesmo nunca chegou ao fim de nenhum começo? As mãos servem de apoio para a cabeça, como para evitar que as idéias escapem. Não consegue se concentrar, tudo chama atenção. Percebe tudo, mas não absorve nada.

Vê alguém caminhando sozinho pela rua. Sozinho, mas cantando. Onde estará indo?

A música no último volume martela versos sobre solidão. “Was I fool, was I fool to think/ That you would take me home?”, ele berra, e mal desconfia que seus versos se encaixam perfeitamente na vida de outra pessoa. Dá um salto: o caminhão de lixo sempre passa nesse horário, mas sempre pega de surpresa. Muda a música, quer algo mais animado. “Quem sabe um rock, para exorcizar”, sugere a si mesma, sem saber ao certo contra qual demônio luta primeiro.

Pensa no dia seguinte. Nenhum horário vago. Não vai dar para ler o livro de cabeceira, de novo. Já devia estar dormindo, mas nunca vai para a cama cedo. “I was wondering if I could have been somebody other than myself”. Nada é mais sábio que o shuffle.

Enquanto escreve, se preocupa com a ordem das frases. Tudo tem que fazer sentido, ser bem estruturado, com as informações mais importantes sempre no primeiro parágrafo. Sempre siga o modelo. Ele garante a uniformidade das idéias. Elas devem ser acessíveis, portanto, trate de fazer as suas se encaixarem na forma (ou fôrma) universal de pensar. Se não couberem, provavelmente é porque você está pensando errado.

Mas... O que fazer quando elas perderam o sentido?

O sono começa a aparecer. Lembra que não jantou, mas já é tarde. “Nunca coma tarde” é o mandamento, mais um para seguir. Tenta se lembrar de todos. Há tantos... Se dá conta de que não segue quase nenhum. Fome.

“Open up my head and let me out”.

Sente a inspiração ir e vir, como quem brinca com um ioiô. Barulhos, ruídos, o silêncio não existe. Olhos pesados, pensa em continuar depois. Mas sabe que as palavras nunca vem nos mesmos blocos, do mesmo jeito: cada dia é um dia. Se não terminar agora, não termina nunca mais. Como saber quando estiver terminado? Quando cair de sono. Quando as palavras não vierem mais, quando não souber o que dizer, quando não agüentar mais.

Lê. Relê. Acha exagerado, brega. Nunca gosta do que escreve: parecem imitações de mau gosto, feitas por pessoas sem o menor senso estético. Suspira.
Cansa.

domingo, abril 19, 2009

Geração coca-cola


Já faz algum tempo que reparo que vários amigos meus não estão se sentindo bem. Eu, pessoalmente, acho que a minha geração é uma geração doente. Doente fisicamente, porque ficamos muito mais tempo preocupados em encontrar a foto que nos tornará mais populares e atraentes em qualquer uma dessas milhões de ferramentas virtuais que aparecem a cada dia do que seria o ideal, enquanto ficamos com doenças de “adultos” mais cedo do que gostaríamos.

Doente mentalmente, porque estamos lendo cada vez menos e mais rápido, só uma passadinha de olho antes da prova.
Mas a principal doença é a sentimental. Estamos desiludidos quando deveríamos estar vivendo o melhor momento de nossas vidas – ao menos, em tese. Com vinte e poucos anos, já temos medo de não conseguir mais sentir o frio na barriga tão característico dos que estão amando, e nos tornamos amargurados: workaholics antes mesmo da formatura. Inseguros, tímidos e auto-destrutivos, temos pensamentos nada agradáveis e transformamos nossa auto-imagem em algo monstruoso, pois, após tantas decepções, passamos a acreditar que as coisas boas não acontecem porque não merecemos.

Afinal de contas, somos inteligentes. Sabemos falar sobre literatura, cinema, arte, política. Temos bom humor, somos amigáveis, compreensivos e companheiros, e sabemos o valor que uma tarde ensolarada ao lado de quem você gosta tem. Então por quê, POR QUÊ “aquela” pessoa não aparece? “Só pode ser porque eu não tenho sorte, mesmo”, pensamos, e nos retraímos em nosso mundinho, isolados e deprimidos.

E jovens.


Como mudar isso, eu sinceramente, não sei. Mas estamos tentando. Se fosse para fazer uma média de amigos e conhecidos na faixa dos 20-25 anos, de dez, oito já fizeram ou estão pensando seriamente em começar uma terapia (eu me incluo nessa estatística amadora). Queremos entender como pessoas que têm tudo podem se sentir tão tristes, às vezes, sem motivos. Temos casa, uma família estruturada, amigos animados.
Mas não sentimos o friozinho na barriga. Não pulamos da cadeira quando nosso celular – de última geração e com câmera fotográfica integrada – toca. Compramos, compramos e compramos, mas quanto mais o quarto se enche de quinquilharias, mas a alma se esvazia, e o coração aperta.

O que aconteceu com os relacionamentos leves da juventude que todos viviam falando? Sentimos o peso da idade muito antes dela chegar. Nos arrependemos antes mesmo de tentar: somos medrosos. Trocamos a irresponsabilidade juvenil pela rotina metódica dos aposentados.
Aposentados esses que estão cada vez mais ativos. Ao contrário de nós, eles querem viver cada vez mais e melhor, certos de que estão apenas começando. Enquanto antecipamos o fim, eles o espicham o quanto podem, aproveitando cada minuto, aprendendo, se divertindo, amando.

Quando foi que trocamos de lugar?

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Meu querido diário

É engraçado como as coisas vão acontecendo na nossa vida, né?


Meu último post foi em março do ano passado, um pouco depois do meu aniversário, mas parece que faz um século. Conheci tanta gente nova nesse ínterim que daria para encher o Maracanã — só para esvaziá-lo de novo, pois, na verdade, eu não conhecia ninguém.

Perdi amigos que só eram amigos na minha cabeça, conheci amigos de verdade onde nunca tinha sonhado em procurar e reencontrei muita gente, que, no momento, está no limbo amigo-desconhecido. Porque agora eu instituí o limbo e estou convicta de que foi uma das coisas mais sensatas que fiz. Amigo, só depois de passar pela peneira. Mas ainda assim, sempre há algumas pedras que conseguem passar pelo buraco…

Terminei um relacionamento de quase três anos e meio com uma pessoa que eu jurava que era minha alma gêmea (até hoje não estou completamente convencida de que estava errada). Aliás, terminaram. Não pude competir com a rival: a juventude dele. “O mundo inteiro na minha frente e eu aqui, estagnado?”, deve ter pensado, enquanto esquecia que eu tenho exatamente a mesma idade que ele e estava — olha que coincidência! — dentro do mesmo relacionamento, pelo mesmo período de tempo.

É estranho pensar que você não é especial para ninguém, nesse sentido. Família eu tenho, amigos restaram alguns, mas “aquela” pessoa não existe mais. Não há mais ligações à qualquer hora, elogios inesperados ou brigas desnecessárias: só você, só. Como tudo na vida, tem seu lado bom e ruim. Embora, confesso, o lado ruim tenha prevalecido nos últimos tempos.

Mas é como dizem: azar no amor, sorte no… emprego. Em uma reviravolta típica de novela mexicana, consegui entrar no lugar em que eu sempre sonhei em trabalhar, desde que marquei o “xis” em “habilitação: jornalismo. Algo assim, como direi… A terra prometida dos aspirantes a jornalista da capital federal: o Correio (Canaã) Braziliense, meu caso antigo, affair que quase cheguei a pensar que seria incalcansável da minha vida. “Se não for pra lá, eu juro que morro. De agonia!”, era meu bordão, enquanto namorava o prédio e as pessoas (no bom sentido) que saíam de lá todos os dias, mortas de cansaço e tensão.

Desde março de 2008, tantas coisas aconteceram que só estou me dando conta agora, com tudo no papel. Da abolição do trema (ai, como eu gostava do trema!) à completa reinvenção (forçada) da minha pessoa em menos de dois meses, fico com a sensação de que o mundo virou uma grande montanha russa, e eu sou a única que quer vomitar.