quarta-feira, abril 29, 2009

Danúbio




Olhava pela janela e pensava. Por quê mesmo nunca chegou ao fim de nenhum começo? As mãos servem de apoio para a cabeça, como para evitar que as idéias escapem. Não consegue se concentrar, tudo chama atenção. Percebe tudo, mas não absorve nada.

Vê alguém caminhando sozinho pela rua. Sozinho, mas cantando. Onde estará indo?

A música no último volume martela versos sobre solidão. “Was I fool, was I fool to think/ That you would take me home?”, ele berra, e mal desconfia que seus versos se encaixam perfeitamente na vida de outra pessoa. Dá um salto: o caminhão de lixo sempre passa nesse horário, mas sempre pega de surpresa. Muda a música, quer algo mais animado. “Quem sabe um rock, para exorcizar”, sugere a si mesma, sem saber ao certo contra qual demônio luta primeiro.

Pensa no dia seguinte. Nenhum horário vago. Não vai dar para ler o livro de cabeceira, de novo. Já devia estar dormindo, mas nunca vai para a cama cedo. “I was wondering if I could have been somebody other than myself”. Nada é mais sábio que o shuffle.

Enquanto escreve, se preocupa com a ordem das frases. Tudo tem que fazer sentido, ser bem estruturado, com as informações mais importantes sempre no primeiro parágrafo. Sempre siga o modelo. Ele garante a uniformidade das idéias. Elas devem ser acessíveis, portanto, trate de fazer as suas se encaixarem na forma (ou fôrma) universal de pensar. Se não couberem, provavelmente é porque você está pensando errado.

Mas... O que fazer quando elas perderam o sentido?

O sono começa a aparecer. Lembra que não jantou, mas já é tarde. “Nunca coma tarde” é o mandamento, mais um para seguir. Tenta se lembrar de todos. Há tantos... Se dá conta de que não segue quase nenhum. Fome.

“Open up my head and let me out”.

Sente a inspiração ir e vir, como quem brinca com um ioiô. Barulhos, ruídos, o silêncio não existe. Olhos pesados, pensa em continuar depois. Mas sabe que as palavras nunca vem nos mesmos blocos, do mesmo jeito: cada dia é um dia. Se não terminar agora, não termina nunca mais. Como saber quando estiver terminado? Quando cair de sono. Quando as palavras não vierem mais, quando não souber o que dizer, quando não agüentar mais.

Lê. Relê. Acha exagerado, brega. Nunca gosta do que escreve: parecem imitações de mau gosto, feitas por pessoas sem o menor senso estético. Suspira.
Cansa.

domingo, abril 19, 2009

Geração coca-cola


Já faz algum tempo que reparo que vários amigos meus não estão se sentindo bem. Eu, pessoalmente, acho que a minha geração é uma geração doente. Doente fisicamente, porque ficamos muito mais tempo preocupados em encontrar a foto que nos tornará mais populares e atraentes em qualquer uma dessas milhões de ferramentas virtuais que aparecem a cada dia do que seria o ideal, enquanto ficamos com doenças de “adultos” mais cedo do que gostaríamos.

Doente mentalmente, porque estamos lendo cada vez menos e mais rápido, só uma passadinha de olho antes da prova.
Mas a principal doença é a sentimental. Estamos desiludidos quando deveríamos estar vivendo o melhor momento de nossas vidas – ao menos, em tese. Com vinte e poucos anos, já temos medo de não conseguir mais sentir o frio na barriga tão característico dos que estão amando, e nos tornamos amargurados: workaholics antes mesmo da formatura. Inseguros, tímidos e auto-destrutivos, temos pensamentos nada agradáveis e transformamos nossa auto-imagem em algo monstruoso, pois, após tantas decepções, passamos a acreditar que as coisas boas não acontecem porque não merecemos.

Afinal de contas, somos inteligentes. Sabemos falar sobre literatura, cinema, arte, política. Temos bom humor, somos amigáveis, compreensivos e companheiros, e sabemos o valor que uma tarde ensolarada ao lado de quem você gosta tem. Então por quê, POR QUÊ “aquela” pessoa não aparece? “Só pode ser porque eu não tenho sorte, mesmo”, pensamos, e nos retraímos em nosso mundinho, isolados e deprimidos.

E jovens.


Como mudar isso, eu sinceramente, não sei. Mas estamos tentando. Se fosse para fazer uma média de amigos e conhecidos na faixa dos 20-25 anos, de dez, oito já fizeram ou estão pensando seriamente em começar uma terapia (eu me incluo nessa estatística amadora). Queremos entender como pessoas que têm tudo podem se sentir tão tristes, às vezes, sem motivos. Temos casa, uma família estruturada, amigos animados.
Mas não sentimos o friozinho na barriga. Não pulamos da cadeira quando nosso celular – de última geração e com câmera fotográfica integrada – toca. Compramos, compramos e compramos, mas quanto mais o quarto se enche de quinquilharias, mas a alma se esvazia, e o coração aperta.

O que aconteceu com os relacionamentos leves da juventude que todos viviam falando? Sentimos o peso da idade muito antes dela chegar. Nos arrependemos antes mesmo de tentar: somos medrosos. Trocamos a irresponsabilidade juvenil pela rotina metódica dos aposentados.
Aposentados esses que estão cada vez mais ativos. Ao contrário de nós, eles querem viver cada vez mais e melhor, certos de que estão apenas começando. Enquanto antecipamos o fim, eles o espicham o quanto podem, aproveitando cada minuto, aprendendo, se divertindo, amando.

Quando foi que trocamos de lugar?