sexta-feira, novembro 20, 2009

I'm yours



Músicas embriagam. Havia chegado à essa conclusão após longas horas de melosidades e romantismo barato, onde o som do violão e a voz espremida do cantor a levaram de volta para um lugar onde jurara nunca mais colocar os pés — muito menos os pensamentos.

De repente, os olhos escapam e vão parar do lado de fora da janela. As nuvens que andam por trás da antena de TV hiponotizam, ao mesmo tempo que causam inveja — para onde irão? Mesmo com todo o barulho em volta de si, sente-se só, e a solidão aperta-lhe o peito. Prestou atenção, entretanto.

A diferença era sutil, mas não pode deixar de perceber que algo estava diferente. Ainda sentia o vazio, mas ele não parecia mais tão indissolúvel. O céu, agora claro, deixara a antena completamente visível. “Mais cedo ou mais tarde, outras nuvens virão para cobri-la”, pensou.

A urgência, o nervosismo, tudo isso ela conhecia bem até demais. Exatamente por isso, sentia, acima de tudo, medo. Sabia muito bem o que as mãos suadas e o frio na barriga significavam: saía de uma cela para entrar em outra. “Estamos sempre presos”, murmurou, ao se dar conta de que já era tarde demais.

Mas o que ela queria mesmo era ir embora. Ser livre, como as nuvens. Para onde terão ido?