quinta-feira, setembro 02, 2010

Enlouquecer

Toda vez que penso em jogar tudo para o alto e desistir, lembro da história de um amigo que pôs tudo a perder por puro desespero e penso: "só mais um pouco, só mais um pouco".

Vou empurando com a barriga e mantenho os dedos cruzados, torcendo para a loucura não tomar conta antes da calmaria chegar.

terça-feira, agosto 17, 2010

Enviar.

Oi.

Que bom que você está bem. Eu vou bem, estamos todos bem, então. Ambos inebriados: você, de amor. Eu... Bom. Digamos que de qualquer coisa, menos de realidade.

Tenho fugido há tanto tempo que não sei mais como é me sentir segura. É como olhar para os lados compulsivamente, mesmo sem saber ao certo o que me causa tanto medo. Como esperar o bote de um animal selvagem em plena cidade grande, como querer correr até meus pulmões explodirem e as veias estourarem -- mas ter os pés fincados no chão. Criei raízes e aboli expectativas.

Mas que bom que com você está tudo certo. Fico feliz em saber que a sua vida anda um pouco menos desbotada que a minha, embora a crença na própria existência das cores não esteja mais presente em mim. O mundo ficou tom pastel depois que você foi embora.

O engraçado é que não me lembro mais como eu era antes de você chegar. Sei que não via as coisas de forma tão pesada, mas não consigo mais me lembrar como é não sentir descrença, raiva, medo... Acho que, no final das contas, você me fez mais mal do que bem.

Ao mesmo tempo, sinto saudades de ter expectativas. Ter expectativa é o mesmo de ter esperança, e COMO isso me faz falta. Você era a minha esperança, e eu nem sei em quê. Nunca senti falta de motivos.

Olho para trás e quase não acredito como eu era diferente antes de você. As pessoas que conheci depois de você não acreditariam, como não acreditam toda vez que você vem à tona.

Ainda que essas vezes tenham diminuído, nunca consegui evitá-las completamente: quando menos espero, lá está você, me vigiando. Distante e sempre presente, sempre.

Essa sim, é a sua mágica.

Até qualquer dia.

sábado, julho 31, 2010

Alguma coisa a gente tem que amar

Deixar de estar apaixonado é uma situação diferente para mim, que sempre estive acompanhada – ou, no mínimo, interessada em alguém. Já me perguntaram várias vezes como é, e a resposta era sempre a mesma:

"Normal".

Quase dá pra ler “decepção” na testa do pobre coitado. Cansado de sofrer, espera ter pelo menos o tempo como aliado.

Mas, como cantou Arnaldo, não sentir nada também pode ser angustiante. Se antes o nó na garganta era quase inevitável, agora músicas românticas são apenas bonitas. Não causam mais aquele aperto no peito, aquela saudade, nada.

Sabe?

terça-feira, maio 18, 2010

Porque há alguns dias me perguntatam qual seria o tempero da minha vida e eu não soube responder. Descobri: o que tira o gosto insosso da existência são os detalhes.

É seu canto favorito da casa, em silêncio. É sair apenas com a companhia dos seus pensamentos, brincar de atrapalhar o caminho das formigas na parede, tomar suco gelado de uma só vez.

É a forma como a sua testa enruga de leve quando você pensa em alguma coisa que te preocupa. É o jeito de reclamar todos os dias sobre as mesmas coisas. E fazer essas mesmas coisas, todos os dias. É antecipar, ansiosamente, cada ato dessa peça que nunca sai de cartaz.

É morrer de rir da sua distração. É gostar das piadas infames, repetidas tantas vezes que já viraram mantras sem sentido. Só a forma de contar já basta.

Não reclamo da falta de rotina – acho uma vantagem, aliás. Mas sinto falta dos detalhes. Assistir uma expressão comum se iluminar, esperar pelo momento certo, planejar surpresas (e fingir susto com a surpresa alheia). Olhar dentro dos olhos e sentir que as coisas podem ser diferentes, sentir calor e frio no estômago. Flutuar.

quarta-feira, abril 28, 2010

Antes do amanhecer




"Sempre sinto que sou anormal por não conseguir seguir em frente. As pessoas têm um caso, ou até relacionamentos, terminam e esquecem tudo. Mudam como trocam de marca de cereal. Sinto que não esqueço as pessoas com as quais estive, porque cada uma tem qualidades específicas. Não dá pra substituir ninguém. O que foi perdido está perdido. Cada relacionamento que termina, me magoa. Nunca me recupero. Por isso, tenho cuidado quando me envolvo com alguém, porque dói demais. Sei que vou sentir saudades das coisas mundanas daquela pessoa. Tenho obsessão com pequenas coisas. (...) Não se pode substituir ninguém, porque todo mundo é uma soma de pequenos e belos detalhes."


Quero cor. Quero uma nova marca de cereal. Quero algo que ainda não sei o que é.

terça-feira, abril 20, 2010

Estava ouvindo algumas músicas e bandas que eu costumava escutar muito há alguns anos atrás e me peguei pensando se ainda gosto delas. Quer dizer, o que antes era a trilha sonora da minha vida, agora é só... música. Assim, no diminutivo, mesmo (mas não diminuídas, isso não!).

Aquela sensação de nostalgia ainda está lá. A viagem aos (ótimos) tempos de adolescência ainda acontece. Como se fizessem cosquinha na minha memória, os acordes, embora pobres musicalmente falando, me levam aonde poucas músicas são capazes: aos melhores anos da minha vida.

Tirei a poeira dos hoje já velhos e ultrapassados CD's e resolvi escutá-los novamente, só para ver o que iria acontecer. Refiz todo o antigo ritual, com toda a pompa que ele tem direito. Tirei a poeira da capa de plástico como quem limpa uma redoma de vidro. Estava quebrada nas dobras, elas sempre quebravam nas bordas.

[Pensando agora, não consigo me lembrar da última vez que comprei um CD original... Talvez tenha sido em 2002, mas estou só chutando. Enfim.]

O encarte é um caso à parte. Sempre tive uma queda por encartes de CD's. São como os livros: feitos para serem degustados, explorados em escala milimétrica. O cheiro, a textura do papel, tudo é encantador. Como se fossem feitos exclusivamente para mim.

Reli as letras das músicas que um dia foram a sensação do meu disckman (nossa, a quanto tempo não escuto essa palavra!). Lembrei do caminho de casa para a escola e da escola para casa, que era quando as escutava, e senti um aperto no peito. Até hoje estou convencida de que não há melhor forma de ter resoluções de vida que caminhar por entre as árvores de Brasília. Mas é um programa que precisa ser feito sem testemunhas. Só você e elas.

E o que aconteceu foi que eu não senti o que esperava. Me surpreendi como cada verso ainda estava bem fresco na minha memória, mas aquela sensação... AQUELA sensação de que eles resumiam a minha vida inteira não estava mais lá.

Sobrou o carinho que se sente por uma coisa que se amou demais, apenas.

terça-feira, abril 06, 2010





- Tudo na vida é uma opção.
- Queria mesmo era ser uma árvore, para não ter que decidir nada.
- Será que ela não decide mesmo sobre nada?
- Claro que não! É uma árvore.

...

- Você disse que não queria decidir sobre nada e já está decidindo que quer ser uma árvore.
- É... Eu sei. Não precisa me lembrar que não consigo ser coerente nem até o fim de uma conversa.


...


- Mas por quê uma árvore?
- Porque ninguém interfere na paz dela. Ela fica lá e pronto. Ela não escolhe nada, não precisa arcar com nada, agradar ninguém, nada. Seria ótimo.

(mas impossível)


...


- Nao dá para fugir de fazer escolhas. Todos os dias a gente escolhe continuar vivo, não escolhe?

sexta-feira, abril 02, 2010

Grade

A cada dia me convenço mais e mais que o verdadeiro sentido de liberdade é fazer o que se está a fim. Sabe, vencer o terrorismo que se faz consigo mesmo, mandar tudo e todos à merda e fazer o que o espírito mandar.

Porque deve ser horrível ser uma pessoa egoísta, mas tenho certeza que pensar nos outros sempre também não pode ser saudável.

Quer dizer, a liberdade é um bom remédio para várias encanações do dia-a-dia. Angústia? Nó na garganta? Para quê? Sou livre, faço o que quero com meus sentimentos e meu tempo. Dedico a quem achar que os mereça, pelo tempo que achar necessário - ou conveniente.