domingo, abril 08, 2012

Não lembro quais palavras usei, mas lembro perfeitamente de como foi escrever o discurso de fim de ano, em 2005. Na época, estava me formando no (hoje antigo) segundo grau. A sensação de estar no que parecia ser o fim da linha me deixou tonta. Lembro que sentia náuseas, me coçava, arrancava, literalmente, fios e mais fios de cabelo. O texto não queria sair, eu não queria sair. Não queria que nada mudasse, porque tinha medo do que aconteceria dali para frente. Toda a zona de conforto conquistada desde sempre desapareceria; a partir daquele momento, não haveria mais uniforme, sinal sonoro para anunciar que já era hora de voltar para a sala de aula, conversas sobre nada durante o recreio.

Eu sabia que, dali em diante, não seria mais viável ver meus tão queridos amigos todos os dias. Na verdade, meu medo era não poder vê-los nunca mais. Depois do discurso, tudo seria novo e desconhecido. Pode parecer ironia, egocentrismo ou neurose, mas eu sabia que a “tranquilidade” adolescente acabaria assim que eu disesse a última palavra. Por isso, não queria dizer. Fingi que não estava em casa quando recebi a ligação da diretora, dizendo que meus cinco parágrafos haviam sido escolhidos para resumir toda a trajetória que vivi naquele prédio.

Não teve jeito. Fui, obviamente, encontrada. Tive que vencer minha timidez e minha relutância, subir no palco, ler para uma plateia lotada de pais e quase ex-alunos o que estava dentro de mim. Lembro de ter escolhido as palavras mais simples possíveis. Queria que elas combinassem com a nostalgia, sentimento que sempre se segura em detalhes aparentemente banais. Falei dos amigos que fiz, das aulas, das angústias. Do medo de não conseguir, de decepcionar. Da vontade de “dar certo”. Mas, principalmente, falei da vontade que tinha de ser feliz.

Levantei os olhos do papel e vi que não estava sozinha. Todo o medo que havia me tirado o sono na noite anterior estava ali, estampado no rosto de todos os formandos. A beca e o chapéu tornaram-se, subitamente, incômodos e pesados. Representavam sim a felicidade que o fim de uma etapa proporciona, mas também significavam o futuro. Não seríamos mais conduzidos, precisaríamos nos orientar sozinhos a partir daquele momento. Era como se todos tivessem se dado conta, ao mesmo tempo, de que aquele era o primeiro segundo de toda uma vida, mais dura, porém, muito mais livre. Era o começo da vida adulta.

Hoje, sete anos depois, fico feliz quando penso nas minhas expectativas adolescentes e em tudo que consegui conquistar até agora. Sinto que fui fiel a mim mesma quando decidi persistir no meu sonho de escrever, de ser jornalista, apesar de todas as investidas contrárias. Cumpri minha promessa pessoal de estudar na universidade que escolhi, e não na que era possível no momento. Não perdi meus amigos, como imaginava que aconteceria com o fim da escola; na verdade, mantive perto de mim todos os que eram, verdadeiramente, meus amigos na época.

Mas adoraria dizer que a menina insegura e medrosa não existe mais. Acho que, de alguma forma, ainda estamos todos lá: pais, professores e alunos, todos com a vontade irremediável de ser feliz. Da maneira que tiver que ser.