quarta-feira, julho 27, 2011

Espaço sideral

rejeitar
re.jei.tar
(lat rejectare) vtd 1 Lançar fora, depor, largar: Rejeitar as armas. 2 Expelir, lançar de si; revessar, vomitar. 3 Não aceitar, não admitir; recusar: Rejeitar uma oferta, uma proposta. 4 Desaprovar: Rejeitar um argumento, um projeto. 5 Opor-se a; negar, recusar. 6 Dir Desprezar por falta de fundamento jurídico ou de pertinência da matéria alegada; não receber.



Começa com um comichão, ali, meio que no começo da língua, perto da garganta. O incômodo aumenta um pouco mais, até que você perde as esperanças de que seja apenas passageiro: o nó vai crescendo, e cresce tanto que entala na garganta. Instantaneamente, disfarçar ao mesmo tempo em que tenta fazê-lo descer da maneira mais discreta possível passa a ser sua prioridade. A respiração nunca pareceu tão descoordenada. Aí você balança a cabeça, assentindo sabe-se lá o quê, rezando para aquela tortura acabar logo. Impressionante como a boca da outra pessoa não emite um som sequer; apenas se mexe, sem parar, impiedosa, metralhando sua rajada de palavras certeiras, bem no meio do peito.

O que faz uma coisa agradar alguém, mas causar asco em outra pessoa? Quais são os critérios usados -- por você e pelos outros -- para decidir se aquilo que nem se sabe se quer vale ou não a pena? Quem decide se uma história vai dar certo ou fracassar, quem foi que delineou esses caminhos? Serão eles sem retorno ou possibilidade de reversão? Não dá para dizer com certeza o que faz uma pessoa se decidir por outra, mas, se você procurar com atenção, talvez encontre algumas pistas do por quê ela não escolheu você. Nem sempre elas serão suficientes para solucionar o caso, porém, já servem como alento à sensação de impunidade de si mesmo.

Porquê se você tem um pingo de respeito por aquilo que chama de alma, não pode deixar que ela saia assim, absolvida nesse julgamento sem ser corrigida, sem aprender a lição. Não que ela seja completamente culpada, mas não é inocente de forma alguma, isso não. Ou não foi culpa dela quando você pensou o que não devia? Não foi ela quem te empurrou para os braços dele, mesmo sabendo que no dia seguinte você se sentiria mais suja do que se tivesse mergulhado uma piscina de chorume? Não é ela que dói, toda noite, e te impede de dormir? Não é ela, por acaso, que entristece sem motivo e lateja, recusando-se a sarar?

Como agir quando o universo simplesmente não entende o que você diz? Quando foi que passamos a falar línguas diferentes, afinal? Quando tudo o que os outros entendem por você é seu alter-ego, lamento informar que Houston, you have a problem. Em meio à essa babilônia de mensagens incompreendidas e reações frustrantes, uma coisa é certa: só quem sai perdendo é você por não se fazer entender. Se cada um domina um idioma diferente, trate de aprender o dos gestos. Não é que palavras sejam superestimadas, mas muitas delas isoladas geralmente se resumem a nada. Primeiro porquê ninguém nunca vai saber quem você é de verdade, segundo porquê você mesmo não vai saber quem você é de verdade.

A ironia disso tudo está na origem dos dois dilemas: você é covarde demais para admitir a hipótese de contrariar quem quer que seja. Covarde porque que não tem coragem de assumir para si mesmo e muito menos para os outros do que ou de quem gosta. Covarde porque se priva quando quer se soltar e se entrega quando preferiria se retrair. Não ter coragem para se bancar é se trancar do lado de fora do mundo e engolir a chave.