segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Escultores de nós mesmos

Poucas atitudes demonstram tanta imaturidade quanto não aceitar que se é imaturo. Assim como o velho e surrado exemplo das frutas, que precisam de tempo até que se tornem prontas para alimentar animais ou fertilizar a terra, não é do dia para a noite que descobrimos a que viemos. Pode ser que o propósito da vida demore a se revelar. Pode ser que ele não exista. Pode ser que seja uma coisa inventada pelas próprias pessoas, algo que precise ser modelado. Uma escolha.

Pode ser que o nome disso seja "vocação", "talento" ou mesmo "sorte". Mas o que eu acredito mesmo é que seja uma mistura de tudo isso, com alguns poucos ingredientes a mais. Acho que é preciso empatia, identificação e, acima de tudo, paciência -- talvez a virtude mais trabalhosa e, por isso mesmo, a mais valorosa e necessária de todas. Acho que a gente precisa insistir para descobrir o que estamos fazendo aqui.

Mesmo artistas que já nasceram com habilidades diferenciadas de fábrica, mesmo eles, tão especiais, precisam de orientação. E paciência. É preciso lapitar, somos todos pedras brutas, toscas e duras, esperando uma forma que nos atribuirá uma função. Queremos ter um lugar, uma finalidade. O que nos difere das pedras, contudo, é que não precisamos esperar até que algum escultor decida o que seremos.

É preciso muita coragem para escolher a própria forma. E mais ainda para mantê-la: sempre haverá alguém disposto a tirar uma lasca. O pior é que essas pessoas conseguirão. Mas sabe que, às vezes, a forma final, sem um pedaço aqui e outro ali, fica até melhor do que a pensada originalmente?