domingo, abril 19, 2009

Geração coca-cola


Já faz algum tempo que reparo que vários amigos meus não estão se sentindo bem. Eu, pessoalmente, acho que a minha geração é uma geração doente. Doente fisicamente, porque ficamos muito mais tempo preocupados em encontrar a foto que nos tornará mais populares e atraentes em qualquer uma dessas milhões de ferramentas virtuais que aparecem a cada dia do que seria o ideal, enquanto ficamos com doenças de “adultos” mais cedo do que gostaríamos.

Doente mentalmente, porque estamos lendo cada vez menos e mais rápido, só uma passadinha de olho antes da prova.
Mas a principal doença é a sentimental. Estamos desiludidos quando deveríamos estar vivendo o melhor momento de nossas vidas – ao menos, em tese. Com vinte e poucos anos, já temos medo de não conseguir mais sentir o frio na barriga tão característico dos que estão amando, e nos tornamos amargurados: workaholics antes mesmo da formatura. Inseguros, tímidos e auto-destrutivos, temos pensamentos nada agradáveis e transformamos nossa auto-imagem em algo monstruoso, pois, após tantas decepções, passamos a acreditar que as coisas boas não acontecem porque não merecemos.

Afinal de contas, somos inteligentes. Sabemos falar sobre literatura, cinema, arte, política. Temos bom humor, somos amigáveis, compreensivos e companheiros, e sabemos o valor que uma tarde ensolarada ao lado de quem você gosta tem. Então por quê, POR QUÊ “aquela” pessoa não aparece? “Só pode ser porque eu não tenho sorte, mesmo”, pensamos, e nos retraímos em nosso mundinho, isolados e deprimidos.

E jovens.


Como mudar isso, eu sinceramente, não sei. Mas estamos tentando. Se fosse para fazer uma média de amigos e conhecidos na faixa dos 20-25 anos, de dez, oito já fizeram ou estão pensando seriamente em começar uma terapia (eu me incluo nessa estatística amadora). Queremos entender como pessoas que têm tudo podem se sentir tão tristes, às vezes, sem motivos. Temos casa, uma família estruturada, amigos animados.
Mas não sentimos o friozinho na barriga. Não pulamos da cadeira quando nosso celular – de última geração e com câmera fotográfica integrada – toca. Compramos, compramos e compramos, mas quanto mais o quarto se enche de quinquilharias, mas a alma se esvazia, e o coração aperta.

O que aconteceu com os relacionamentos leves da juventude que todos viviam falando? Sentimos o peso da idade muito antes dela chegar. Nos arrependemos antes mesmo de tentar: somos medrosos. Trocamos a irresponsabilidade juvenil pela rotina metódica dos aposentados.
Aposentados esses que estão cada vez mais ativos. Ao contrário de nós, eles querem viver cada vez mais e melhor, certos de que estão apenas começando. Enquanto antecipamos o fim, eles o espicham o quanto podem, aproveitando cada minuto, aprendendo, se divertindo, amando.

Quando foi que trocamos de lugar?

2 comentários:

Felipe Moraes disse...

Adorei!

Nossa era é a era da melancolia, da frustração e do descontentamento. Como diria Tyler Durden, "a grande depressão são nossas vidas".

Enquanto o individualismo for a tônica dessa sociedade capitalista, estaremos doentes.

Abraço,
Felipe Moraes

Vilhena Soares disse...

Foda! Foda! Clap clap clap
\o/\o/\o/