segunda-feira, junho 04, 2012



“O amor é um acidente esperando para acontecer”. A citação, brega como o próprio amor, é de um dos meus filmes preferidos.

É claro que, para uma relação acontecer, é preciso que haja várias “coincidências” ao mesmo tempo - como lugar, hora e estado de espírito certo. Mas não tenho tanta certeza assim de que ele é acidente, pura e simplesmente.

A situação era completamente fora de contexto: uma festa de aniversário em uma fazenda, longe da cidade e de acesso difícil e chato, bem chato. Estrada de terra, mapa confuso e todos esses pequenos detalhes que fazem a vontade de comparecer minguar mais rápido que o tempo de preparo de sopa instantânea.

O plano era ir e voltar no mesmo dia. Graças ao Google Maps (que, supostamente, deveria facilitar a nossa vida), nos perdemos. O jeito era ficar por lá até o outro dia, mesmo sem barracas, edredons ou qualquer outro artifício que pudesse nos manter minimamente confortáveis durante a noite. O jeito foi beber para se esquentar. Fazer o quê?

O mais engraçado é que o amor, embora aconteça de repente, tem um padrão. Pelo menos comigo, sempre foi algo meio inexplicável, beirando o misticismo, mesmo. Bati o olho nele e pronto. Eu não sabia ainda, mas provavelmente já estava apaixonada.

Ele estava distraído, vendo estrelas. Teve que ser puxado, literalmente, pelo braço por uma amiga em comum, que foi usada descaradamente como laranja do que eu, ao menos naquele momento, achei que seria apenas mais uma “investida noturna”.

Acontece que o amor também tem essa coisa que algumas pessoas batizaram de “química”. Mas dizer que aconteceu um entrosamento químico seria impreciso. Foi quase napalm.

Ainda assim, no dia seguinte, eu esperava pelo clichê. Olhares cínicos, frases evasivas, o clima do “nada aconteceu”. Na verdade, o que se seguiu foi um clichê às avessas, um padrão de comportamento meio vintage, se posso colocar dessa maneira.

Pode parecer cruel, mas a troca de telefones protocolar já foi abandonada há tempos na dinâmica dos amores descartáveis. Não se faz mais isso, simples assim. “Você tem que me dar seu telefone, no mínimo”. Essa frase soou tão estranha aos meus ouvidos que fiquei instantaneamente desconfiada. Para quê alimentar esse tipo de esperança, de que um até então completo desconhecido teria tido tempo de estabelecer um vínculo afetivo comigo, por mais tênue que fosse? Perda de tempo, ilusão, gente. Para quê?

Não dei meu número. Preferi encerrar aquele capítulo com um lacônico “pega com a Ana Paula depois.” Se tem uma coisa que o período de solteirice me ensinou é que é melhor acabar com falsas expectativas logo no início, para evitar a fase sorvete-com-filme-da-Drew-Barrimore no final de semana seguinte. Como essa fase deixa as pessoas amargas é uma constatação que não cansa de me surpreender.

O fato é que ele entrou em contato. Não pelo telefone, mas pela internet, a maneira moderna de se importar sem demostrar tanto. E, a partir desse momento, montamos em um foguete: nos encontramos de novo poucos dias depois, e de novo, e de novo.

Pronto. O acidente que começou em um lugar improvável, em um dia inexato e de uma maneira que deixaria os mais conservadores se questionando sobre os rumos da juventude moderna tinha acabado de ter um desfecho.

É sempre bom quando o destino te surpreende. É ótimo perceber que a vida não precisa ser tão pesada. É excelente sentir o extremo oposto disso: pisar no chão com passos leves, alma tranquila.

Aquela sensação de que vale a pena acordar, principalmente se for ao lado dele.

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