Fez o que há muito ansiava mas nunca tivera coragem: resolveu tomar as rédeas da própria vida. Colocou tudo que precisava em sua bolsa favorita, trancou a porta e saiu.
O primeiro passo rumo à vida nova seria fazer sozinha o que geralmente só se faz acompanhado. Enquanto tentava enxergar a melhor poltrona na escuridão do cinema, sentia os olhares queimando-lhe a nuca, fulminantes, mas cheios de pena. Olhou para baixo, tateou o celular no bolso e fingiu escrever uma mensagem. Com medo do aparelho tocar justo naquela hora, tentou sentar-se o mais depressa possível, equilibrando o saco de pipoca doce e sua bolsa, desnecessariamente enorme.
Sentiu-se aliviada por ter escolhido um cinema não tão popular. Nada mais desagradável que dividir o mesmo ambiente com casais egoístas: ávidos por alardear sua felicidade, esquecem da solidão alheia.
Após o filme, resolveu dar uma volta. Na verdade, não foi bem uma resolução. Apenas saiu e caminhou, sem saber ao certo para onde – algo até então inacreditavelmente inédito, tamanha a dependência que tinha de outras pessoas.
Sozinha, aproveitou para pensar na vida. Rebobinou mentalmente os últimos meses e não foi capaz de encontrar uma resposta sequer para a tristeza que sente hoje.
Sentiu vontade de conversar, mas desistiu. Precisava aprender a se sentir completa em sua própria companhia. Cansou de fazer os outros de muleta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário