quarta-feira, outubro 07, 2009

Shame on you

É engraçado como algumas coisas parecem cair no seu colo no momento certo. Há alguns dias, uma conversa com uma amiga sobre culpa me deixou com a pulga atrás da orelha. Não vou entrar em detalhes, mas, em resumo, ela me disse que seu maior problema é sentir culpa em dobro: além da culpa natural, que surge quando não consegue corresponder às expectativas dos outros, há a culpa por decepcionar à si própria - muito mais ingrata e massacrante.

Com o tema martelando na minha cabeça, lá vou eu para a internet. Uma simples Googleada me conduziu a esta reportagem, veiculada na revista TPM no mês passado. A matéria fala justamente sobre culpa, especificamente a feminina. O que me deixou realmente impressionada, uma vez que nunca tinha imaginado que o assunto fosse assim, tão de domínio público (um pouco egoísta da minha parte acreditar que só eu ou, pelo menos, poucas pessoas haviam divagado sobre isso, admito).

A mulher de hoje precisa ser 24 horas, multiuso, independente, informada e bem vestida. Não basta ser interessante se você não está com as unhas feitas ou não sabe diferenciar um escarpim de um chanel. Pergunta: qual a moral da história? Resposta: ninguém consegue ser/fazer tudo isso ao mesmo tempo, o tempo todo. Em algum momento, você vai querer dormir depois do almoço. Nem todos os dias no trabalho serão produtivos, nem sempre as melhores ideias serão suas.

Se fosse fácil aceitar tudo isso numa boa, a vida seria uma maravilha. Entretanto, os problemas surgem exatamente porque nos cobramos demais. Não falo só das mulheres porque para mim ambos os sexos são neuróticos, MAS, segundo os especialistas ouvidos na reportagem, as mulheres sentem-se mais culpadas que os homens. Um dia sem ir à academia é quase uma sentença de morte, um chocolate é sinônimo de pecado mortal digno de fogueira, e para quê? Sentimos culpa quando produzimos e quando não produzimos, mesmo.

Para mim, a origem de tanta culpa é a vontade de parecer ser mais do que se realmente é. Se me permitem o clichê, a mídia também não ajuda -- aliás, atrapalha. O que mais são todas essas revistas com dicas de moda, beleza e afins além de catalizadores da culpa alheia? Todo mundo sabe que é humanamente impossível ficar parecida com as modelos que estampam as páginas desse tipo de publicação, então, porque diabos isso incomoda tanto? Porque com tantas opções, é difícil se contentar em ser apenas você mesmo.

E quem foi que colocou todas essas expectativas nas nossas costas, mesmo? Foram os professores, os namorados, os chefes, os pais, quem? Na maioria dos casos, nós mesmas. Ainda estou aprendendo a lidar com o sentimento de culpa, já que ele está presente em todos os momentos. É impossível fugir. Me sinto mal quando não consigo cumprir metas que eu mesma estabeleci, mas estou tentando não me cruxificar mais (tanto) por conta isso.

4 comentários:

Lucas Galvão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas Galvão disse...

O que você chama de culpa, eu chamo de frescura...

(uma pitadinha de machismo, pra não perder o costume XD)

Emissário e Quaresma disse...

Isso é muuuito verdade. Já reparou com faz as propagandas do dia das maes na C&A ? Não são mamaes gordinhas e com 40 + anos, gordinhas pelos filhos, pois elas são maes, peitinhos caidos pois amamentaram os filhos. Quem faz a propaganda de roupas são modelos gatissimas que estão longe de uma vida materna normal ... o0' Minha mae nunca foi gata que nem akelas mamaes top models que so vao existir no imaginário da pseudo moda barata midle class =p.

Duda Moraes disse...

Gláu entendi quando você disse de ser mais detalhista no meu blog.
Adorei o seu tema. É particularmente as mulheres tem essa síndrome de culpa muito mais aguçada. Uma vez que nos tempos dos agaís, ela só era vista como “dona de casa e reprodutora’’, quando assumiu uma postura sobre a sociedade, muitos elogios foram lançados a sua volta. Nossa como mulher é isso, é aquilo. O que faz um parâmetro de qualidade. Não fazer aqui é igual a se rebaixar. O que não é aceitável.
Só não acho muito sadio nutrir esse sentimento por muito tempo sobre determinada coisa, creio que temos que dosar e com isso seremos melhores para com nós mesmo.