terça-feira, maio 05, 2009

Teimosia




Não consigo pensar em nada que deixe um universitário mais angustiado que a sensação de não saber muito bem o que está fazendo – especialmente aqueles que, como eu, sempre tiveram certeza do que queriam da vida.

Se no começo do curso tudo é festa e expectativa, a frustração nos anos seguintes é inevitável. Não quero parecer pessimista demais (apesar de o ser), mas nenhum curso na face da Terra é capaz de suprir todos os sonhos de um calouro. Sempre haverá professores sem ética, pessoas picaretas, colegas insuportáveis ou aulas inúteis no meio do caminho, seja qual for a opção marcada no vestibular.

Mas o que acontece quando não se é mais calouro? A única coisa que podemos fazer quando percebemos que o que sonhávamos não era assim tão cor-de-rosa: amadurecer. E isso significa trocar reclamações por atitudes e "birras" por alternativas que agradem ambos os lados de um desentendimento. Como num filme de faroeste, precisamos deixar sempre um sorriso amarelo preparado, pronto para ser sacado a cada vez que uma acusação injusta ou sem sentido vier em nossa direção (e são tantas!).

Com o passar dos semestres, não ganhei apenas créditos e dores de cabeça. Olhando para trás, percebo o quanto embarquei no jornalismo confiando única e exclusivamente no meu feeling (que depois descobriria ser muito útil para a profissão). Sem ter a menor idéia sobre o que REALMENTE significa entrar esse mundo, me atirei de cabeça, não quis nem saber. Como qualquer apaixonado, não pensei nas consequências, apenas fui.

E, como acontece em qualquer paixão, o encanto passou. As consequências vieram em forma de insônia, olhos inchados, tensão a cada pauta que desanda ou cai, medo de não estar por dentro de absolutamente TUDO o que está acontecendo no mundo, de não escrever bem ou de não passar os dados corretos e um princípio de infarto cada vez que escuto meu celular tocar.

Pago o preço pela minha escolha diariamente. Meu humor não é mais o mesmo, não sei o que é dormir mais de oito horas em uma mesma noite (salvo feriados, enquanto os plantões não chegam), minha saúde faria Dráuzio Varella arrancar seus cabelos – se ainda os tivesse – e, definitivamente, não consigo mais olhar ser humano nenhum com os mesmos olhos.

Mas continuo. Cada matéria publicada é uma vitória, e só eu sei o quanto custou deixá-la pronta. Nada me deixa mais feliz que receber ligações ou e-mails de leitores que se identificaram com alguma coisa que escrevi, ou saber que uma matéria minha foi capaz de influenciar positivamente a vida de alguém, mesmo que de forma sutil.

Como em qualquer relacionamento, a paixão virou amor.

Um comentário:

Marina Bártholo disse...

Bravo, amiga, bravíssimo!!